• Idealizadores buscam adesão da sociedade, poder público e iniciativa privada para viabilizar a construção e manutenção da obra em parque público em São Paulo, epicentro da pandemia.
• Construção do Memorial Inumeráveis já conta com o apoio da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo
• Com 2.440 metros quadrados, projeto artístico e arquitetônico propõe experiência imersiva atravessando as 3 fases do luto, em espaço aberto, onde a memória será preservada e o ar não mais faltará
• Grupo de voluntários responsável pelo Memorial Inumeráveis mantém plataforma digital desde o início da pandemia, dedicada a contar a história de cada vítima
Projeto Memorial Inumeráveis em parque na cidade de São Paulo (Divulgação)
São Paulo, 13 de dezembro de 2021 – Após quase dois anos se dedicando a contar as histórias de vida de cada uma das vítimas da pandemia de covid no Brasil, o Inumeráveis lança hoje o projeto de um espaço físico em parque público para a cidade de São Paulo. O projeto Memorial Inumeráveis foi concebido pelo artista plástico e tecnologista Edson Pavoni, em colaboração com o empreendedor social Rogério Oliveira, os arquitetos e urbanistas Maria Luiza de Barros e Guilherme Bullejos, a jornalista Alana Rizzo, a diretora executiva Rayane Urani, a psicóloga paliativista Silvana Aquino, a médica e paliativista Ana Claudia Quintana Arantes, a bióloga e ativista Gabriela Veiga, o produtor cultural Rogério Zé, o coreógrafo Rubens Oliveira, o tecnologista Jonathan Querubina, a escritora Giovana Madalosso e o curador Marcello Dantas .
O grupo de idealizadores, que desde o lançamento do site Inumeráveis, em abril de 2020, já mobilizou mais de 600 voluntários e conta com mais de 121 mil seguidores nas redes sociais, está em busca de apoio da sociedade, governos e iniciativa privada para viabilizar a construção e a manutenção da obra em um dos parques públicos na cidade de São Paulo. A construção do Memorial Inumeráveis já conta com o apoio da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
“O Inumeráveis nasceu para que não deixássemos de enxergar as pessoas e as histórias de vida para além dos números de mortos que nos acostumamos a contabilizar todos os dias durante a pandemia”, diz Edson Pavoni, idealizador do Inumeráveis. “Agora queremos transformar esse memorial em uma experiência física, aberta a toda população. Acreditamos que constituir um espaço arquitetônico memorial é uma solução para manter viva a memória das pessoas que perdemos, mas também das decisões que tomamos como sociedade, dos erros que cometemos e das soluções que criamos no enfrentamento dessa pandemia.”
Para marcar o lançamento e a nova fase de mobilização da sociedade, o Inumeráveis apresenta uma simulação da obra em vídeo 3D. O vídeo contou com a narração dos artistas Chico César, Babu Santana, André Abujamra, da jornalista Aline Midlej, da radialista Roberta Martinelli e da comunicadora e ativista indígena Samela Sateré-Mawé e trilha sonora de André Abujamra. Familiares de vítimas e voluntários em todo país também participam do lançamento com ampla divulgação nas redes sociais.
“Meu marido faleceu em 7 de janeiro de 2021, uma semana depois da chegada da vacina em nosso município. Ele não teve a chance de se vacinar porque o governo brasileiro não assumiu sua responsabilidade diante de seu povo. E nós, famílias de todos aqueles que foram vítimas da covid 19, jamais vamos esquecer tudo isso”, relata Cristina Marcondes, esposa do médico Paulo Marcondes, um dos profissionais de saúde que atuou na linha de frente da pandemia e um dos inumeráveis. “O Memorial virá para cravar na terra deste país o nome e sobrenome de cada um de nossos amores que se foram para que ninguém jamais se esqueça de que foram vítimas de uma tragédia coletiva, porém escrita com cada uma de suas histórias singulares.”
Bettina Florenzano, voluntária do site e filha de uma das vítimas, manifesta seu apoio ao projeto do memorial físico: “Quando o site Inumeráveis foi criado já foi um grande passo. Como voluntária e filha de uma das vítimas, me senti confortada porque pude contar a história da minha mãe, e ela não seria apenas mais uma vítima da covid. Agora, com o memorial físico, fico ainda mais agradecida e com a alma mais calma ao saber que mais pessoas poderão conhecer os nomes e as histórias de quem se foi, de uma forma ainda mais palpável”, afirma.
As 3 fases do luto representadas no memorial
Jornada pelas três fases do luto: o Grito, o Silêncio e a Música (Divulgação)
A travessia pelo memorial foi idealizada como um ritual, de acordo com a consultoria e a colaboração da médica e paliativista Ana Claudia Quintana Arantes. A jornada de memória e cura passa pelas 3 fases do luto: o Grito, o Silêncio e a Música.
“Todo o processo de luto que vivemos, que começa quando perdemos uma pessoa que amamos, vai ser elaborado e construído pelo caminho do lado de dentro, pelo caminho que a relação interrompida ocupa na nossa vida. E este espaço muitas vezes pode ser entendido como uma caminhada em espiral, circular, mas que não nos leva para o mesmo lugar”, explica Ana Claudia Quintana Arantes, médica, paliativista e integrante do time Inumeráveis.
Projeto artístico, arquitetônico e tecnológico do memorial
Simulação em vídeo do projeto Memorial Inumeráveis (Divulgação)
Com 2.440 m², o projeto artístico e arquitetônico propõe uma experiência imersiva em espaço público e a céu aberto. Na entrada, o visitante encontrará um texto sobre a pandemia e sobre como esse episódio marcou nossa história para sempre. Um pouco à frente se apresentarão duas rampas, e o visitante precisará escolher uma. Ao longo de ambas, os primeiros nomes das vítimas no Brasil estarão gravados em metal. Um amplo espaço vazio, silencioso, passa a separar os visitantes nos lembrando do isolamento social e da solidão do luto. Todos os dias, ao pôr do sol, o memorial acenderá luzes que iluminam individualmente cada nome gravado.
Quando um visitante apontar seu celular para um nome, ele será direcionado para a história daquela pessoa no site do Memorial. Nesse momento, a luz individual daquele nome gravado no metal se acenderá com mais intensidade, como se estivesse ‘sentindo’ a conexão.
Ao apontar o celular para um nome, o visitante será direcionado para a história daquela pessoa no site do Memorial (Divulgação)
No fim da rampa, o visitante enxergará uma instalação artística composta por dois vidros que parecem dividir o espaço. Quando duas pessoas, uma de cada lado, tocarem o vidro no mesmo lugar e ao mesmo tempo, ambas sentirão uma gentil vibração, sinalizando que se tocaram fisicamente. A instalação funcionará por meio de sensores e atuadores eletrônicos invisíveis aos visitantes e representará o papel essencial da tecnologia em manter a sociedade conectada durante o isolamento social.
Escadaria representará passos rumo à retomada das relações presenciais e ao mesmo tempo será arquibancada para promover encontros e interações (Divulgação)
A descida da escada a partir do alto das rampas representa os vários passos necessários para a retomada das relações presenciais. Celebrando o fim do distanciamento social, a escada também se torna arquibancada para abrigar encontros e conversas presenciais. Sentir a terra e a grama novamente juntos simboliza a reaproximação e abre caminho para as necessárias conversas sobre o que aprendemos e como a sociedade se transformou. A árvore, centralizada à frente da arquibancada, será a parte mais alta do Memorial, onde os visitantes poderão se sentar para refletir e entrar em harmonia com a natureza.
“Guardar a memória faz parte da nossa homenagem, do nosso protesto e da nossa cura. Nós não vamos esquecer”, finaliza Edson Pavoni .