*Giselle Luzia Dziura
A Modernidade nos anos 1920, no mundo da arquitetura, envolvia a tecnologia do elevador, concreto armado e construção metálica em altura, possibilitando o processo de verticalização dos edifícios. Ao longo do século XX, foram incorporados no Brasil referenciais internacionais, advindos da Europa e Estados Unidos, transmitindo ideias de “modernidade” e “progresso” impactando no modo de vida e comportamento das pessoas e das cidades.
Neste contexto, nasce o Edifício Moreira Garcez, iniciado em 1924 e concluído em 1934, situado na Avenida Luiz Xavier, no prolongamento da Rua XV, uma rua de pedestres, símbolo da cidade, no centro de Curitiba. Construído pelo engenheiro e ex-prefeito de Curitiba, João Cid Moreira Garcez, foi o primeiro arranha-céu da capital e na época, o terceiro maior do Brasil.
O projeto original previa subsolo e cinco pavimentos, contudo dois anos depois, o engenheiro decidiu aumentar mais três pavimentos. Há algumas hipóteses para esse acréscimo, a existência de uma dedução tributária para o prédio que tivesse maior altura na cidade, ou ainda a manifestação de modernidade por meio de verticalização, já que outros edifícios foram sendo construídos no Brasil.
A verticalização de um edifício na cidade é um fenômeno que altera a paisagem urbana e denomina-se popularmente, como arranha-céu aquele edifício vertical com altura diferenciada em comparação aos demais, sendo normalmente um marco ou referência para a cidade. Tal linguagem arquitetônica, historicamente, se transforma como símbolo de progresso nas cidades. Aliado à verticalização, alguns edifícios têm caráter multifuncional, abrigando duas ou mais funções, como é o caso do Edifício Moreira Garcez.
Previsto para ser um hotel de luxo, o Garcez também abrigou salas comerciais nos primeiros anos. Na década de 1930 cedeu espaço para o Consulado da Alemanha, sede provisória do Cassino Estância das Mercês, Palácio das Diversões Skating Golf Girsl os bailes do Bloco Please e sede da Federação Paranaense de Futebol. Durante as décadas seguintes, as funções se alteraram, abrigando associações, repartições públicas, escolas, cinema, loja de departamentos e shopping. Atualmente, a multifuncionalidade é composta pelo Centro Universitário Internacional Uninter.
Como características da modernidade que se manifestam no Edifício Garcez, destacam-se então, a multifuncionalidade, a verticalização e a construção. Os materiais utilizados e o sistema construtivo merecem destaque pelos desafios tecnológicos. Até então, os materiais das construções consistiam tijolo com vigas em metal ou madeira e a obra do Garcez foi a primeira construção em concreto armado do Paraná. Esse sistema estrutural permitiu a viabilidade espacial de aumentar os vãos, como por exemplo o pátio interno, onde hoje estão localizadas as escadas rolantes. O conceito do pátio consistia em favorecer a circulação de ar e a integração visual entre os andares. Cabe destacar ainda que a obra partiu de uma fundação construída com troncos de eucaliptos embebidos em óleo cru.
Evidenciam-se alguns elementos arquitetônicos originais que estão preservados, como os guarda corpos, esquadrias e vitrais geométricos, compondo o edifício na sua linguagem eclética, com um misto entre Art Deco e inserção de elementos paranistas, marcando a verticalização e valorizando a esquina.
O movimento Art Déco é uma arte de vanguarda para a época, popular nos Estados Unidos e Europa nas décadas de 1920 e 1930, tem as principais características que consistem na simetria, geometria, aerodinamismo e simplicidade na forma, em oposição aos estilos tradicionais imbuídos com intensa ornamentação, as quais podem ser observadas no Edifício Garcez. Há formas fragmentadas nas fachadas, criando linhas verticais angulares e apontadas para cima, sendo coroadas com uma série de etapas que eventualmente chegam a um ponto.
Internamente, há o uso de cores vivas e contrastantes, principalmente nos vitrais e revestimentos de pisos. As janelas possuem elementos decorativos e geométricos com uma série de inserções de vidro opaco.Externamente ao edifício, as extremidades são compostas com ornamentos com estruturas semelhantes a torres que faz com que um edifício quadrado simples, pareça ser mais oponente.
Como inserção de elementos paranistas, destaca-se a geometria de pinhões estilizados presentes na fachada e em detalhes internos nas esquadrias. No movimento paranista há no pinheiro e pinhão como derivado, o símbolo do Paraná, que tinha como ponto principal a criação de uma identidade provocando um sentimento de pertencimento na população. Observa-se entre ambos os movimentos – paranista e Art Déco, uma coerência conceitual com elementos da natureza, repercutindo assim no imaginário das pessoas.
O Edifício Moreira Garcez esteve a frente do seu tempo e continua até hoje, cuja arquitetura expressa a riqueza da memória do passado e aponta para projetos do futuro, por meio dos espaços educacionais. A multifuncionalidade do edifício promove diversidade de atividades e pessoas, possibilitando a convivência de partes distintas da cidade, envolvendo as várias funções urbanas, como estudar, trabalhar, comprar e conviver é a base da VITALIDADE URBANA.
E Curitiba continua progredindo, há 330 anos!
*Giselle Luzia Dziura é Arquiteta e Urbanista (PUCPR/Erasmus École Paris La Seine), Doutora em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP), Coordenadora de Cursos Pós-Graduação (UNINTER). Diretora de Engenharia e Projetos FUNDEPAR, órgão do Governo do Paraná no desenvolvimento de escolas estaduais.