Gastamos, normalmente, 90% do nosso tempo em ambientes fechados.
Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) estamos mais em casa do que nunca. Voltamos para o conforto do nosso lar e levamos junto o nosso trabalho, um bilhete de ida, sem data certa para a volta.
Aderimos ao home office e improvisamos nosso escritório: reservamos parte da mesa de jantar para colocar o computador, adotamos uma cadeira, deixamos o traje social no guarda-roupa e o sapato no armário. Vestimos bermuda e a camiseta preferida. O melhor dos mundos! Até a realidade bater em nosso ombro.
As crianças se aproximam a cada cinco minutos para brincar, o cachorro late sem parar no meio de um call, a panela de pressão “grita” na cozinha ao lado. As costas começam a doer depois de 1 hora sentado naquela cadeira de madeira, carência ou excesso de iluminação e é preciso forçar os olhos para enxergar a tela, é necessário escolher entre fechar a janela para não ouvir a música alta dos vizinhos ou passar calor (ou frio).
Nesse momento, descobrimos que a nossa casa não é tão confortável assim, pelo menos para uma rotina de trabalho de 40 horas semanais, cinco vezes por semana. Nos sentimos improdutivos e estressados, a cabeça começa a doer, fica impossível se concentrar e ainda resta mais da metade da lista de tarefas do dia para fazer. A sensação é de cansar o dobro, para executar nem metade.
Por que nos sentimos assim? Segundo Guido Petinelli, CEO da Petinelli – empresa de consultoria em sustentabilidade para certificação de edificações LEED e WELL -, esses são os efeitos de passar tanto tempo num ambiente que não foi projetado para a atividade que estamos desempenhando em casa, ou seja, trabalhar.
Entre as diferenças, está a questão do conforto térmico. Em casa, geralmente, o ambiente escolhido para trabalhar não é climatizado e, se o é, não permite o controle individual. Pesquisas revelam que graus moderados de controle individual sobre a temperatura melhoram consideravelmente a produtividade.
A acústica também influencia no desempenho. No trabalho, há um padrão de comportamento esperado entre as pessoas que compartilham do espaço, ou seja, há um controle maior de barulho e silêncio. Em casa, o nível de ruídos é imensamente maior e incontrolável: o bebê acorda no meio do call, o cachorro late, os carros passam na rua, o vizinho fala alto, e essas interrupções causam distração e estresse.
A qualidade do ar impacta diretamente na concentração: mau cheiro ou perfumes tiram o foco da tarefa que está sendo executada. A própria pintura da parede pode liberar gases tóxicos. A qualidade do ar exige que ele seja renovado, o que não acontece ao escolher um cantinho isolado da casa para trabalhar com menos barulho, ainda mais se ele não tiver janelas. Ganha-se na acústica, perde-se na qualidade do ar.
A ergonomia está relacionada à adaptação dos elementos do ambiente de trabalho à realização de atividades repetitivas, por determinado período de tempo, evitando lesões. Ajuste da cadeira, profundidade da mesa para abrigar tudo o que você precisa e atenção ao ângulo de inclinação do braço em direção ao teclado são preocupações no ambiente de trabalho, mas itens negligenciados em casa.
O conforto visual está relacionado aos níveis de luminância, que não são dimerizáveis quando se está em casa. A posição solar do seu escritório improvisado em casa é favorável em alguns períodos do dia, em outros não, e não é possível fazer essa compensação. O nível inadequado de luminância no ambiente exige esforço constante para adaptação ocular à tela, o que gera a fadiga visual.
Situações como as acima podem estar acontecendo no próprio ambiente de trabalho, mesmo depois do investimento para trocar todas as lâmpadas por LED, por exemplo: uma atualização de iluminação eficiente com um retorno de dois anos poderá resultar em prejuízo se o brilho, a fadiga visual ou baixa iluminação no ambiente comprometerem até 1% da produtividade, segundo dados do International WELL Building Institute (IWBI).
“Isso significa que mais do que projetar as edificações para serem eficientes e sustentáveis, é preciso pensar na qualidade das condições que estão sendo oferecidas aos ocupantes, priorizando sua saúde e desempenho. É fazer mais e melhor com menos, de forma criativa e funcional”, explica Guido.
Por isso, é importante adotar novos padrões para o desenvolvimento e execução de projetos arquitetônicos e de engenharia, que possibilitem medir, certificar e monitorar os recursos do ambiente construído que impactam a saúde e o bem-estar das pessoas. Essa nova demanda vai ao encontro do que é exigido na certificação WELL Building Standard, que mede 10 fatores de um edifício ideal para os ocupantes.
O CEO da Petinelli explica que as premissas compreendem a melhoria da qualidade do ar interno e remoção dos contaminantes transportados pelo ar; fornecimento de água da mais alta qualidade por meio de filtragem e tratamento e promoção da acessibilidade; e controles da intensidade de iluminação.
“Além dos elementos tangíveis, a certificação WELL Building Standard engloba os aspectos intangíveis associados ao incentivo à atividade física através do design do edifício, a oferta de escolhas alimentares saudáveis, a criação de ambientes produtivos, ergonômicos, livres de distrações e relaxantes e o apoio à saúde mental e emocional dos ocupantes”, complementa Guido.
No mundo, 3.822 projetos já estão registrados no programa WELL e 292 são certificados, para um total de mais de 4,1 mil projetos em 59 países. Isso totaliza 49 milhões de m² construídos e certificados ou em processo de certificação, entre edifícios comerciais de escritórios, espaços interiores, edifícios multifamiliares, lojas de varejo, escolas, restaurantes e projetos de cozinha comercial.
O CEO da Petinelli lembra que o Brasil não fica atrás nesse movimento global, com a vanguarda da Região Sul, mais especificamente, do Paraná e da capital Curitiba. O Erastinho – primeiro hospital oncopediátrico do Estado, destinado especialmente ao combate do câncer infanto-juvenil -, está em obras e terá a certificação WELL.
O mesmo deve acontecer no mercado de incorporação imobiliária, com a certificação dos novos lançamentos da Construtora Laguna na capital paranaense. A nova sede da Vivensis – empresa de tecnologia de informação, também em Curitiba -, além de ser autossuficiente em energia, busca o selo WELL.
“A experiência transforma prioridades e redefine critérios de escolha individuais e coletivas. Apesar de vivermos uma situação dramática de saúde pública no mundo, esse é um momento de disrupção para a construção civil. É a oportunidade para estabelecer um novo padrão de edificações, que priorizem a saúde e o bem-estar de seus ocupantes, junto com a eficiência e a sustentabilidade”, avalia Guido.
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Fonte: MEmilia Comunicação