Com a expectativa de popularização dos contratos de compra e venda 100% digitais até o fim de 2023 no Brasil, imobiliárias já adaptam processos para o fechamento remoto de financiamentos, com menos burocracia e mais agilidade.
Acelerado pela pandemia de covid-19, o processo de digitalização do mercado imobiliário deve simplificar a burocracia para a contratação de crédito imobiliário no país de forma definitiva a partir do próximo ano. O contrato de financiamento imobiliário 100% digital deve ser uma realidade ampla no mercado em 2023, reduzindo a papelada e o tempo de fechamento de negócios de compra e venda de imóveis.
Bancos privados, como o Bradesco, já oferecem a opção de fechamento dos contratos de financiamento sem que o cliente precise sair de casa. Instituições financeiras públicas, como a Caixa Econômica Federal, também se preparam para a transição, que deve avançar com a implantação do Sistema Eletrônico dos Registros Públicos (Serp), que vai unificar sistemas de cartórios de todo o país. O registro eletrônico reúne assinaturas digitais, permitindo também o acompanhamento virtual dos processos.
Na outra ponta, as imobiliárias, que atuam como despachantes, já usam plataformas de assinatura digital de contratos e estão se familiarizando com os sistemas online de envio de dados e documentações aos bancos, à espera da digitalização total. A novidade já mostra potencial de agilizar e desburocratizar a contratação de crédito imobiliário. “A mudança está acontecendo de forma rápida. Há dois anos, os contratos digitais eram feitos apenas no departamento de locação. Na pandemia, a gente começou a fazer também para compra e venda, principalmente nos períodos em que não era prudente fazer reuniões presenciais. E isso foi bom por um lado, porque mostrou que é possível fazer tudo sem deslocamento”, conta o sócio e CEO da JBA Imóveis, Ilso Gonçalves.
De acordo com Gonçalves, atualmente, a carteira da JBA de vendas tem 80% dos fechamentos por contratos digitais. “É uma facilidade muito grande, porque a digitalização elimina a dificuldade de acertar agenda de comprador e vendedor para a assinatura, que, em várias situações, já foi feita até no período da noite, para clientes que não tinham disponibilidade em horário comercial. Com a opção de fazer tudo de forma remota, todos têm tempo de analisar a documentação com tranquilidade e fazer a assinatura em casa, depois de tirar todas as dúvidas”, afirma.
Gargalos: custo da assinatura e acompanhamento
Embora o crédito imobiliário digital já seja uma realidade, há questões que precisam ser solucionadas para o pleno funcionamento da modalidade de assinatura de financiamentos imobiliários. Segundo a despachante imobiliária da JBA, Brígida Pagliarini, a maioria dos bancos e dos cartórios ainda exige a assinatura física ao fim da transação. Os que já fazem o processo 100% remoto exigem a assinatura digital qualificada, que representa um gasto extra para os clientes. “Tudo caminha para a digitalização, mas há gargalos importantes que precisam ser solucionados. Como só é possível fazer um contrato nessa modalidade com a assinatura digital de todas as partes, é necessário que o preço do certificado seja mais acessível”, defende a despachante. Para transações complexas, como compra e venda, ou registro e transferência de imóveis, o certificado tem custo anual de cerca de R$ 400.
Fora a assinatura, as etapas anteriores da contratação de financiamento imobiliário já são feitas quase que totalmente de forma virtual. As instituições financeiras oferecem plataformas digitais que facilitam o processo e recebem os formulários do despachante imobiliário com os dados de documentação do cliente, exigindo apenas o envio dos documentos digitalizados para comprovação. Apenas quando a aprovação do crédito é condicionada, é necessário enviar movimentação bancária e holerites para complementar.
Outro ponto de atenção na transição para os financiamentos digitais é a necessidade de acompanhamento das partes do começo ao fim do processo. “Os clientes conseguem dar entrada nos processos digitalmente, mas a interferência do agente bancário ou despachante imobiliário é necessária, para instruir e orientar as diferentes etapas, que não são simples. Mesmo com a assinatura digital, esse caminho vai demandar pessoas envolvidas no atendimento”, prevê Pagliarini.
O crédito imobiliário é um empréstimo oferecido por bancos e instituições financeiras, que pode ser utilizado para comprar ou construir uma residência. Uma das modalidades de financiamento mais populares no Brasil, esse tipo de financiamento tem taxas que variam as mudanças nos índices monetários oficiais brasileiros, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).