Mayara Agnes
O mercado imobiliário é o termômetro da economia brasileira, uma vez que, de modo geral, somos um povo que tem como sonho de vida a conquista da casa própria. Isso é cultural: cresce e se propaga de geração para geração e não há apenas um público determinado interessado neste tipo de investimento. Desde a média idade até os jovens adultos, que podem ou não ter família constituída, todos desejam adquirir um imóvel para chamar de seu, e quando há possibilidades, até mais de um.
Ocorre que a crise sanitária transformou as necessidades da população de tal forma que fomentou um novo mercado imobiliário, composto por aqueles que já conquistaram seu sonho e que agora buscam um novo lar doce lar; ou, ainda, por aqueles que não viam esse investimento como necessário, mas de repente despertaram para este sonho.
Ao longo da pandemia, residências que até então atendiam bem as funcionalidades básicas de um espaço para descanso e algumas refeições passaram a atender a multidisciplinaridade da rotina brasileira, sendo a escola e o parque de diversões dos pequenos, o escritório dos adultos que tem seu regime de trabalho alterado integral ou parcialmente para o home office, o espaço de lazer e integração da família, bem como o refúgio daqueles que dividem o mesmo lar.
Então, os espaços começam a ser analisados de forma crítica, surgindo a necessidade por mais metros quadrados úteis, estrategicamente divididos. A cozinha de conceito aberto fica temporariamente em xeque; o home office torna-se um item básico de consumo, a quantidade de banheiros passa a fazer a diferença. A eficiência acústica, até então questionada apenas “entre unidades autônomas” torna-se uma necessidade entre cômodos de um mesmo apartamento.
Ao longo dos anos, processo de aquisição de imóvel vem sofrendo diversas transformações. Em 2010, houve um boom imobiliário que durou cerca de quatro anos, favorecido pela expansão nas linhas de crédito e juros mais acessíveis, bem como pela valorização acumulada registrada no setor imobiliário.
Este cenário sofre queda entre os anos de 2015 a 2016, quando houve uma supervalorização dos imóveis e o brasileiro precisou adiar o sonho da casa própria, satisfazendo-se em residir em imóveis alugados por conta dos preços insustentáveis e das taxas de juros pouco atrativas. Ainda em 2017, o setor registrou um aumento gradativo que atingiu seus melhores resultados em 2019, favorecido por uma nova intensificação nas linhas de crédito e no oferecimento de novas modalidades de financiamento, tais como as oferecidas pela Caixa Econômica Federal baseadas no IPCA.
Nessa nova onda de crescimento, a busca por qualidade de vida – com mais conforto, segurança e comodidade – passa a ser decisiva. Os pequenos residenciais, aos poucos, dão lugar aos grandes lançamentos imobiliários, com uma infraestrutura mais completa, que oferecem tecnologias para monitoramento e controle de acesso, além de áreas de lazer mínimas que garantem o conforto e entretenimento para diferentes tipos de famílias.
Aliás, este é um detalhe importante em meio a esta evolução. A configuração das famílias mudou; a tradicional família composta por um casal e dois ou três filhos deu lugar a um mix diversificado: famílias sem filhos, famílias com “filhos de quatro patas”, famílias que agregam membros seniores e também aquelas compostas de apenas uma pessoa. As mulheres conquistaram a sua independência, detendo hoje parte equivalente ou em alguns casos majoritária nos recursos utilizados para aquisição de um imóvel, sendo não apenas as que determinam a escolha do imóvel, mas também as que custeiam grande parte do investimento.
E, novamente, no pós-pandemia, observamos um novo movimento do brasileiro, a procura de espaços que atendam melhor suas expectativas com relação ao morar.
O momento é de otimismo, já que projeção de crescimento do setor é de mais de 12% em relação ao ano passado (de acordo com estimativa da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário – Ademi). Grandes expectativas nos esperam para 2022. Que venha logo este novo ano.
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*Mayara Agnes é diretora executiva da Agnes Construção e Incorporação.